quarta-feira, 29 de abril de 2009

Valéria Verde: multinacionais e ecologia


Impacto nos vales de Valéria pelas empresas


Mercedes-Benz em Valéria

Empresa Toshiba, em frente ao ISVA


Residências em auto-construção ao lado da Toshiba e em frente ao ISVA
Tecnologias adequadas para Sociedades sustentáveis
"Para a liberdade não há modelos ou modulações, somente experimentações"
(Edson Passeti)

O conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se um coringa, um talismã (ALLENDE LANDA, 1995), encontrável em qualquer esquina, país, empresa, ong, etc. todos afirmam que estão praticando esse tal de desenvolvimento sustentável, empresas, chefes de estado, ong´s, pessoas... (JACOBS, 1996) parece que descobriram a pílula do rejuvenescimento, um dorian gray ilusionista. Todos professam a mesma cartilha. Sera?!?@

O bom é ser pequeno (Schumacher, 1983), já se dizia nos anos 60, apresentando modelos de tecnologias adequadas que não prejudicam o ambiente. Depois disso, as empresas mais poluidoras, os países com políticas tecnológicas mais agressívas faziam e ainda seguem fazendo em seus discursos uma lengalenga preservacionista, de responsabilidade sócio-ambiental enquanto contaminam toda a natureza, inclusive, nós os humanos. Protocolos internacionais acertam acordos que não são cumpridos, nem pelos que assinaram.

Quando os hippies iniciaram o movimento de comunidades alternativas (viva Raul!!), os produtos orgânicos, o uso de tecnologias mais simples, menos agressivas prosperou no mercado alternativo. O negócio é ser pequeno!!! fontes alternativas de gás, energia solar, eólica. Como os governos de direita e esquerda iriam modificar suas matrizes energéticas para moverem suas grandes indústrias, seus grandes parques tecnológicos?

Algumas empesas se capitalizaram e aperfeiçoaram seus equipamentos seguindo a onda alternativa, mas nenhuma política ou programa governamental poderia dizer livremente que iria mudar sua matriz sem que da noite para o dia as grandes empresas transferissem seus negócios para outros lugares.

Atualmente, ainda existem comunidades sustentáveis ou condomínios alternativos, embora rodeados e permeabilizados pelo mercado e modo de vida capitalista, mas enfim... As ecovilas são comunidades baseadas num modelo ecológico. Estão espalhadas no mundo, formando grupos entre 50 a 3000 pessoas. Ao lado dessas comunidades intencionais, existem ainda um número muito amplo de comunidades tradicionais indígenas, camponesas que também convivem de forma mais harmônica entre si e com o ambiente. Existe, inclusive, uma Rede Global de Ecovilas reunindo vários condomínios espalhados pelo mundo. Essa rede, segundo Braun (2005), foi criada em 1995 por ocasião da Conferência sobre as Ecovilas e Comunidades Sustentáveis - Modelos para o século XXI, realizada na Fundação Findhorn. Segundo esse autor, "este movimento já existe em mais de 15 mil localidades em diversos países, congregando mais de um milhão de pessoas, principalmente na Europa, América do Norte, Austrália, África do Sul e mais recentemente na América do Sul, que fazem parte de uma Rede Global de Ecovilas (GEN)" (p. 16). No Brasil, de acordo com Braun, já existem mais de 30 comunidades na rede de Ecovilas vinculada à global.

A ecovila de Findhorn, localizada no norte da Escócia e da baía de Findhorn, possui mais de 300 membros e "um grupo permanente de pessoas de 25 países, inclusive do Brasil" (p.48). Recebe por ano mais de 14 mil visitantes de mais de 50 países. Segundo Braun, a comunidade já ergueu 27 prédios ecológicos, desenvolveram vários tipos de tecnologias com materiais naturais. Como exemplo, a parede que "respira" para as residências, a partir de uma estrutura que permite "a saída do vapor de água e o ar saturado, impedindo a entrada do frio e da chuva" (p.53). Madeiras reutilizadas para construção de casas, cultivo de gramíneas no telhado, placas solares para energia elétrica, e a "máquina viva" sistema biotecnológico de purificação de águas residuárias das casas, são algumas das tecnologias sustentáveis que eles utilizam.

Na Bahia, existem algumas comunidades alternativas localizadas na Chapada Diamantina, principalmente, no Vale do Capão, município de Palmeiras, originários dos movimentos alternativos dos anos 70. Nessa época, muitas pessoas formaram grupos e foram viver nessas comunidades rurais nas regiões serranas do Estado.

Saindo da Escócia, indo para o Brasil, passando pela Chapada Diamantina e chegando ao Km 11 da BR-324, encontramos o ISVA, instituto socioambiental, atuante no bairro de Valéria no município de Salvador, na defesa da preservação ambiental e da melhoria da qualidade vida das pessoas, trabalhando com agricultura orgânica, agroecologia e permacultura. O ISVA atua como um centro de estudos em agroecologia urbana, possui uma Bilblioteca Comunitária, realiza oficinas eco-produtivas e cineclube. Em seus arredores grandes empresas nacionais a Gerdau por exemplo, e multinacionais como a Toshiba convivem com as residências simples, auto-construídas por seus próprios moradores que resolveram na ação direta seus problemas de moradia.
Em várias partes do bairro ruas sem asfalto onde se pode aproveitar para fazer pequenas hortas comunitárias com produtos para alimentação ou medicinais são as características principais de algumas áreas do bairro. O desemprego tem modificado a vida tranquila do bairro que tem uma grande presença de pessoas vindas das áreas rurais do Estado. Campanhas de plantio de árvores no bairro para proteger mananciais, nascentes e lagoas que contribuem para vida do rio do Cobre e da própria preservação do parque São Bartolomeu são algumas das ações do ISVA. As áreas verdes do bairro estão sendo vítimas de agressões pela implantação de empresas, de ruas que surgem sem a preocupação socioambiental e que vão desfigurando a paisagem e impedindo uma vida mais saudável nesse local. Valéria Verde é o chamado que fazemos para os moradores do bairro.

Uma outra sociedade com face humana e ecológica é possível se mudarmos nossa matriz energética, se soubermos viver igualitariamente, sem as tais desigualdades sociais.

Eduardo Nunes

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Crítica ambiental e a propriedade

Não adianta ficar culpando a produção capitalista e esquecer que essa sociedade sobrevive não apenas pelo que produz, mas também pelo que induz, nas cabeças ventosas da população, ao consumo desenfreado, agressivo e contaminado/nante. Uma nova tecno/ideologia precisa ser discutida e posta em prática, vivida, que se diferencie dessa genocida. Assim, não podemos jogar lixo e ajudar a poluir o planeta porque assim o fazem as empresas capitalistas. Não podemos desperdiçar água, porque assim o fazem as empresas. O problema está quando generalizamos a crítica, alguns grupos ambientalistas denunciam e atacam as empresas pelos danos ambientais que provocam, mas é a mídia governamental e a religiosa em geral quem ficam apresentando apenas a suposta responsabilidade individual para a conservação do planeta, pois não podem ou não querem se indispor contra as próprias empresas que têm (Petrobras, por exemplo) ou as que financiam o governo. Por outro lado, a idéia de só se debater e lutar contra a questão ambiental após a derrubada do capitalismo é conversa de stalinista. É preciso saber focar a questão e perceber que a participação das pessoas é fundamental nesse processo, não apenas denunciando as atividades poluidoras das empresas, mas agindo individualmente e localmente plantando árvores, conservando o ambiente e boicotando, lutando e criticando as empresas e o estado. A revolução deve passar também por nossas ações. Claro, não podemos deixar de lado todos os equipamentos produzidos por esse modo de produção, mas princípios ético-ambientais, educação ambiental e ações práticas, isso sim, é possível.
Eduardo Nunes

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ABACATEIRO ACATAREMOS TEU ATO




"Persea Gratíssima: rico em vitaminas e proteínas. É diurético, combate a gota, o ácido úrico e elimina cálculos renais e biliares. É preferível usar as folhas secas, pois as verdes são estimulantes e aumentam as palpitações cardíacas. A massa do abacate é fortificante dos cabelos e tem alto poder cicatrizante.


(REZENDE, André. O poder das ervas: vida natural. São paulo: IBRASA, 2006)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ecopedagogia com Educomunicação: tempo, conversa com a árvore e o ECO

Dedico este texto a Maya P., Educadora Popular - México (saludos y continuidad en caminos de libertacion, viva a Zapata!), assim como a todos o irmãos latinoamericanos; nos encontraremos ao tempo, quando não fisicamente, mas em sonhos.

Iniciamos as atividades de educomunicação com ecopedagogia no ISVA – Instituto Sociambiental de Valéria. As atividades são realizadas por mim e venho observando/interagindo/dialogando com o lugar, as crianças que ali visitam junto aos seus familiares e vizinhos. A prática em educomunicação é uma compilação dos aprendizados adquiridos nos últimos anos, principalmente a experiência trazida com o Projeto Cala-Boca-Já-Morreu, produzido pelo Gens Empreendimentos Educacionais de São Paulo e as formações realizadas no Coletivo Jovem Pelo Meio Ambiente – Grupo Pegada Jovem - Salvador. A ecopedagogia é uma pesquisa e ação, iniciada no 1º semestre do ano passado como aluno especial do Mestrado em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, instigado pelos textos de Capra ou organizados por ele, trazidos pelo Prof. Doutor Eduardo Nunes.
As atividades estão acontecendo aos domingos pela manhã com um grupo de crianças e adolescentes que freqüentam por livre e espontânea vontade a Biblioteca José Oiticica, situada no ISVA. Como estamos no início, não temos um produto de comunicação bem definido. Pensamos em realizar um pequeno Fanzine e houve a escolha do nome. Vai se chamar “Jornal das Crianças”. A idade dos editores desse produto varia entre sete a dezesseis anos. Eles mudam de função na produção do jornal de acordo com o que estão a fim de fazer.
Diferente de alguns trabalhos que já realizei; aqui se faz o que se pensa e o que se quer de verdade. Não temos meta, nem tempo para produção. Não se fala em Pinochet como referência para ser linha dura (tem educadores por aí, fazendo trocadilho: tem que ser um pouco Pinochet e um pouco Piaget). Imagine a atuação com as crianças nos momentos Pinochet... histeria em sala? Nada de holocausto em nosso diálogo, a política do medo e da obrigação, não faz parte dessa didática.
Na verdade não temos sala, mas muitos espaços a serem descobertos. Uma agrofloresta, um tanque para refrescar, um cineclube, uma biblioteca, uma cozinha, um forno a lenha e a rua. Sim, a rua é a grande educadora, a TV também, a Lan House com jogos e internet, as relações familiares, enfim, o meio que se vive pulsa de aprendizados. O importante é dialogar sobre o mundo vivido e traduzirmos o que esses momentos cotidianos nos dizem.
A essa prática, experimentamos localmente as lições das vivências contidas nos textos do livro organizado por Capra, sobre Educação Ecológica, cujas referências não estão aqui nesse textinho. É que ficou no computador do grande parceiro de trabalho Igor Sant´Anna, mestrando em Educação, Urbanista e Palhaço. É verdade que esse texto não tem a função de ser científico, mas de informar aos caros leitores de algo que está sendo feito seguindo o tempo em sua plenitude. Lembro das aulas do Prof. Doutor Gey Espinheira – Universidade Federal de Bahia - UFBA, ele diz: temos que andar com o Tempo, afinal de contas Tempo é um Orixá e deve ser respeitado! Minha yá diz a mesma coisa.
Para alguns, o uso do tempo de um projeto significa: planejamento de aula, cumprimento de metas, criação de diversos produtos, conferências, mostra de produtos, relatórios, simpósios, fóruns, conselhos, reuniões e vamos incrementar com uma passeata, convidar fulano de tal e importar sicrano, falar mal de beltrano e emplacar verba para o próximo ano: GOOOOOOL! Haja dinheiro teta brazilis! São os Tempos Modernos no Quanto Vale ou É Por Quilo. E assim se vai vivendo, se alimentando e aburguesando.
cada macaco no seu galho, xô chuá
eu não me canso de falar...

Sem a pretensão de ser tal coisa e nem sequer pensar nos lo(u)iros, (mesmo porque descobrir que meu negócio, verdadeiramente, são as pretas – alquebradas seguravam nas suas tetas os pretos antepassados) do meu galho idealizo a construção coletiva de alguns produtos de comunicação aos olhos, mãos, pés, corpo inteiro infanto-juvenis e como ia dizendo anteriormente, realizamos ecopedagogia com trilhas pelo ISVA.
Isso não significa que as reuniões, planejamentos, fortalecimento de conselhos, relatórios, entre outras coisas não sejam importantes, são e muito, porém a minha crítica está associada ao mercado organizacional que surge às brechas do Estado e se apropria, com aval da chancela governamental, dos espaços de poder, inclusive de instituições públicas, medindo forças com seus gestores. A antiética dos ongeiros que assim se comportam se dá pela facilidade de acesso a altos escalões do Estado; muitas vezes seus representantes acabam assumindo esses cargos comissionados e utilizam dessas relações para pressionar e fazer valer seus projetos/ações diante de gestores públicos conflituosos que não concordam com a invasão deliberada. Por outra via, a aceitabilidade das instituições públicas às ONG´s é alta, pois minimizam a ausência do Estado que não consegue suprir as necessidades básicas, a exemplo disso, na educação brasileira as escolas públicas municipais e estaduais passam por sérios problemas, como falta de equipamentos, professores, merenda e aumento da violência dentro da sala de aula.
Rabo do elefante branco faz do movimento ongeiro o terço da política. Se por um lado geram um mercado próprio de grande disputa por verbas e uso inescrupuloso das relações de poder. Relações trabalhistas não respeitadas, estranho enquadramento jurídico, ausência de transparência na gestão dos recursos junto ao público diretamente beneficiado. Cerca de 70% desses recursos ficam dentro das próprias instituições bancando as contas de seu quadro bem remunerado, pelo menos, muito melhor do que o público atendido. Em outra via, há execução de trabalhos/projetos que beneficiam comunidades e instituições de forma que o próprio Estado não o consegue realizar.
Sabemos da existência de instituições da sociedade civil organizada que tem ética e valores bem definidos e surgem na esfera dos movimentos sociais de forma genuína, a exemplo disso, aconteceu o Movimento de Defesa do Menor (1979-1980) iniciado por Lia Junqueira em São Paulo, precursor do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. O trabalho incrementado por Carlinhos Brown no Candeal – Salvador (BA), o projeto do Afro Reggae na Vila Canária - Rio de Janeiro (RJ), esses dois últimos têm características semelhantes, pois realizam a educação através da cultura, desenvolvendo as diversas potencialidades no mundo das artes; Na área ambiental há várias experiências, como o GAMBÁ – Salvador (BA) que realiza, entre outras ações, o controle de políticas públicas e serviu como berço para o Coletivo Jovem Pelo Meio Ambiente – Pegada Jovem de Salvador, esse, por sua vez, vem mobilizando a juventude em todo o Estado, gerindo poucos recursos de forma coletiva e realizando grandes ações. São muitos exemplos de trabalhos efetivos, eficientes, planejados e com intencionalidades políticas claras feitas por instituições do terceiro setor.
Participando do III Encontro de Latino Americano de Educação Popular Ambiental – Cuba no final do ano passado (Nov-2008), entrevistei diversos líderes de comunidades agrícolas, assim como, técnicos das áreas de biologia, agricultura urbana, educação ambiental e percebi o quanto a incidência política se dá a partir de ações locais bem planejadas e executadas. Somente que a metodologia para esses líderes está de tal forma internalizada que os processos se tornaram orgânicos, fazendo com que as comunidades desenvolvam relações produtivas, afetivas, dialógicas interessantes.
Nas trocas de experiências constatei a importância de Paulo Freire nos movimentos sociais populares da América Latina e como os sistemas comunicativos precisam ser abertos e apropriados pelas comunidades. A dura realidade de domínio do Estado pelos meios de comunicação e ainda o monopólio dos meios por fortes grupos econômicos fazem da luta pela democratização do acesso e produção de tecnologias de comunicação muito desafiadora na Latino América. É imprescindível a presença de educadores dentro dos espaços formais e não formas que comprem essa luta e saibam como atuar junto aos educandos numa tentativa de realizar um projeto de contra cultura ao domínio. Isso está diretamente associado à necessidade de reflexionarmos sobre os nossos costumes de consumo, as relações de poder que construímos dentro dos espaços de trabalho e família, e as disputas diárias que temos para satisfazer nossos projetos de vida.
Os caminhos não são fáceis, há muita dificuldade em mobilizar as comunidades, até para realizar oficinas, conseguir apoio e dar continuidade aos processos de interação. Há diversas justificativas para isso, variando desde as condições materiais, a exemplo da comunidade de Valéria (bairro periférico de Salvador/BA) que é muito pobre em recursos financeiros, facilitando o aumento por adeptos ao narcotráfico e ao alcoolismo; baixos níveis de escolaridade o que dificulta a reflexão crítica e a aprendizagem; falta de acesso a boa alimentação, serviços de saúde e lazer o que traduz uma realidade comum para a maioria da população da nossa cidade, estado, país. Prostituição infantil, meninos e meninas em vulnerabilidade social nas ruas, desemprego, são mazelas que carregamos desde que Brasil é Brasil.
Nos nossos quinhentos anos de extermínio aos índios e negros, pouca coisa mudou, apenas cremos que passamos a sermos mais civilizados, pois observamos nos noticiários de TV nossas naturalizadas chacinas, tantas que já não nos ocupamos com elas. Somos tão genocidas que vemos os corpos ao chão e fotografamos em nossos celulares, fascinados pela brutalidade dos atos da polícia e de traficantes. É o nosso brincar de polícia e ladrão diário, seja no café da manhã, almoço, jantar e também nos intervalos para lanche, estamos de olhos e ouvidos atentos ao suculento ruído das sirenes e as manchas de sangues por todos os lados, ou melhor, por todos os meios de comunicação de massa. Baila a orquestra do pânico nas cidades brasileiras.
Pensar e agir coletivamente, de verdade, pressupõe entrega, o que não significa escravidão, mas uma pré-disposição a ser libertário e sair de esquemas determinados de manipulação/competição, ou ainda, atuar nesses espaços de forma contrária. Deixar transparente as relações de poder predominantes, buscar coletivamente possibilidades de transformações e utilizar as tecnologias de informação e comunicação como ação política de democratização/libertação.
Para o projeto Cala-a-boca-já-morreu, a intencionalidade do educador/mediador é uma dos pontos chaves no desencadeamento do processo educomunicativo. Ismar Soares, Prof. Doutor da ECA/USP aposta na gestão do sistemas comunicativos a partir do amplo diálogo e sistematização dos processos, isso significa avaliação, administração e planejamento permanente. Ismar Soares chega a não distinguir educomunicação de política, ou seja, trabalhar na perspectiva da educomunicação é fazer ação política. A junção das palavras incidência e intencionalidade é nossa forma de fazer política, ou seja, temos a intenção e a capacidade de interagir politicamente na comunidade com ações de participação.
Como isso se dá? Sinteticamente, a resposta vem na prática do diálogo entre os atores do meio/comunidade (Ismar Soares chama de construção de ecossistema comunicativo). Experimentamos o diálogo na perspectiva de Paulo Freire, ou seja, formamos círculos de cultura, espaço de comunicação e desenvolvimento social, onde seus integrantes são os responsáveis por suas ações/interesses e todos têm o mesmo poder de decisão. No ISVA, as crianças desse trabalho inicial de educomunicação e ecopedagogia formam um círculo de cultura.
No domingo passado, conversamos com uma árvore de raízes frondosas em colunas. Ela é espinhosa e deve ter uns 40 metros de altura; nome, idade e espécie me faltam pelo pouco conhecimento em Botânica. Batizamos nossa conversa de ECO. É que entre as paredes de suas raízes, dizíamos: “árvore, árvore... árvore de raízes grandes sempre esteja aqui para nos proteger e trazer alegria...” Ao finalizarmos as palavras, descobríamos que nossas vozes reverberavam entre as entranhas raízes. Daí, repetimos a palavra ECO com várias tonalidades e volumes. Isso deu a sensação de estarmos dentro de uma grande caixa alto-falante.
As crianças falavam, reverberavam vozes e sorrisos. O sol atacava pelas pequenas flechas das folhas da grande árvore espinhosa e mal chegava a nós. Tarde prazerosa, terminava com a tarefa para casa de fazermos nossa árvore genealógica.
Que tal uma nova conversa com a árvore que fura e fura após descobrirmos os nossos antepassados? Creio que essa será a nossa próxima atividade. Dessa vez vou convidar Sr. Antônio, grande conhecedor da natureza, para tirar dúvidas sobre idade, nome, família, função, entre outras cousas daquela sábia árvore.
Há um planejamento mais orgânico do que aquele realizado junto com as alterações dos dias, das noites e suas visitas surpresas?
Os índios da tribo Kariri-xocó (Nordeste-Brasil), nos falam sobre o tempo do homem branco e o tempo da natureza. Claramente percebemos que os índios não se distinguem da natureza, ao contrário, contemplam o meio ambiente ao fumo do Tabaco para a escuta e aos assobios trazem notícias de algo ainda incompreensível para a humanidade capitalista.
Na contramão do burgo ongeiro; esse que almeja por ser tutor de políticas públicas a benefício próprio, empresariando suas imagens numa atitude de envergada disputa pelo nicho dos recursos públicos; esse do é tempo de murici, cada um que cuide de si (tirei de um livro de História da 7º série do colegial, que não lembro mais o nome, porém me recordo da querida educadora negra que carinhosamente chamávamos de Conça), pensamos num tempo voltado para uma ética libertária e de benefício coletivo.
Observação: ainda não somos índios, mas resgatamos as heranças de nossos antepassados.
É verdade, viajamos muito naquela alta árvore, tanto que bateu onda e escrevi esse pequeno texto para vocês.
Abraços,
Herbert da Silva
Conheça o ISVA e contribua com ações para a sustentabilidade e liberdade.
Visite-nos em http://isva-institutosocioambientaldevaleria.blogspot.com/

terça-feira, 14 de abril de 2009

sábado, 11 de abril de 2009

Oficina de Leitores D. Quixote: Relatório

27/01/09
Oficina para:
Sabrina Silva; Gabriel Costa; Patrícia Silva; João Vitor; João Gabriel; Hebert Riuna; Henrique Riuna; Hugo Riuna.
-Atividade:
Hora de ouvir historia
-Livro:
Retalhinho branco, Maria Helena Portilho, Rio de Janeiro, Conquista.
-Moral da historia:
A historia de retalhinhos brancos que trabalhavam numa fábrica triste e parada, até que um dia um passou pelo sol e se tornou amarelo, outro passou pelo mar e se tornou azul, outro pela floresta e ficou verde e assim a fabrica ficou alegre e movimentada. Reflexão sobre: Valorizar e respeitar as diferenças. / A diversidade de raça no nosso país nos torna um povo mais alegre, colorido e feliz.
-Atividade lúdica:
Pintura com cores: Primárias (amarela, azul e vermelho)
Secundárias (violeta, laranja e verde)
Atividade para casa:
Pintura com cores secundárias (amarelo+azul=verde, vermelho+amarelo=laranja e vermelho+azul=violeta)
-Levar o aluno a perceber a diferença entre as cores, a importância e a beleza que existe em cada uma delas.

28/01/09
Oficina para:
Pérola da Silva; Lisandra Silva; William Santana; Ivanildo Ribeiro; Isadora Costa.
-Atividade:
Hora de ouvir historia
-Livro
Retalhinho Branco, Maria helena Portilho, Rio de Janeiro, Conquista.
-Moral da historia:
Ver item acima.
-Atividade lúdica:
Mosaico-tema livre (recorte de revista com diversidade de cores).
- Atividade para casa:
Confecção de mosaico – tema livre.

29/01/09
Não houve oficina, pois os alunos (adolescentes) matriculados não compareceram.
Aproveitei a manhã p/ elaborar atividades p/ a próxima semana. Li uma parte do livro Dom Quixote e quando menos esperava chegaram três alunos que não podem comparecer na terça-feira, pois moram longe e não podem ir sozinhos para a biblioteca. A mãe trabalha três vezes na semana e na quinta-feira folga. Assim as crianças passaram a vir na quinta-feira ao invés de terça.
Oficina para:
Douglas Santos de Jesus; Vitor Santos Gomes; Viviam Rosário Santos de Jesus.
-Atividade:
Hora de ouvir historia.
-Livro:
Um peixinho apaixonado.
-Atividade lúdica:
Ver item acima.

30/01/09
Reunião da UFBA. (faltei – estava com muitas dores de cabeça).

02/02/09
Encontrei com Carol (participante do projeto) na Estação Pirajá e de lá fomos à biblioteca.
Carol visitou a biblioteca e pode observar os espaços, suas reais necessidades estruturais.

03/02/09
Não houve oficina foi retirada uma parede que não servia de sustentação, apenas como divisória. A idéia de retirada desta parede foi de Jussara (voluntária que tem me auxiliado diretamente no local) inclusive pagou a mão de obra do pedreiro. Após a retirada desta parede o espaço ficou amplo e mais arejado, agora poderei trabalhar em qualquer turno, pois antes jamais poderia promover oficinas a tarde por causa do sol que incide diretamente na janela e na porta, agora tenho a possibilidade de recuar mais para o meio do espaço.
Eu e a Jussara passamos toda a manha arrumando o espaço, tirando os livros didáticos que não serão utilizados e guardando-os em outro espaço da biblioteca.

04/02/09
Não houve oficina continuei a arrumação

Oficina de Formação de Leitores Dom Quixote

Objetivo: Contribuir, através do estimulo ao hábito de leitura e do acesso a informações gerais e utilitárias, para o aprimoramento educacional, cultural e social das pessoas.
Propostas de trabalho:
Literatura
Hora de Ouvir História – contação de historias com diversos temas.
Oficina
Artesanato / brinquedos criativos
Confecção de brinquedos com material reciclável.
Literatura
Circulo de leitores – leitura coletiva de textos.
Passatempo Cultural
Atividade lúdica educativa com palavras cruzadas caça palavras e outros.
Literatura
Momento da poesia – recital poético
Oficina literária
Criando histórias – Com a caixa de palavras as crianças e adolescentes criarão pequenas histórias.
Jogo da Memória
Construção de um jogo da memória trabalhando com as palavras e seus significados.
Arte
Pinte e rabisque na biblioteca – Mergulhando no universo da pintura, as crianças aprendem brincando a pintar de forma livre explorando a imaginação, a criatividade e a liberdade de expressão.
Dinâmicas
Dinâmica de desafios possibilita aguçar a imaginação, a criatividade, a testar os limites e a estimular a quebra de barreiras.
Estudo de texto
Não só ler, mas levar o adolescente a envolver-se no texto e operar, ou seja, colocar em prática no caso expressar o seu ponto de vista.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Do caos ao ato




“Surgiam homens; um exército negro, vingador, que germinava lentamente nos alqueives, nascendo para as colheitas do século, e cuja germinação não tardaria a fazer rebentar a terra” (ZOLA)


Estamos na época da cajá e do abacate no ISVA. A garotada e os adultos chegam para coletar os frutos para fazer sucos da cajá e vitamina do abacate. Baldes cheios são coletados durante o dia. A cajazeira e o abacateiro são árvores que possuem inúmeras propriedades medicinais nas folhas e frutos.
"Acataremos o teu ato nós também somos do mato como o pato e o leão"
"Enquanto o tempo Não trouxer teu abacate Amanhecerá tomate E anoitecerá mamão" (Gil)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Parque São Bartolomeu pede Socorro











Uma equipe do ISVA - Antonio Mendes, Gilberto Machado, Igor Sant' Anna e Eduardo Nunes - foi visitar no dia primeiro de abril de 2009 o Parque São Bartolomeu. Encontramos um parque abandonado, a cachoeira de Oxumaré espumava devido aos esgotos de conjuntos habitacionais localizados à montante dela, a Cachoeira de Oxum está sem uma gota de água, ambas têm origem no rio Mané Dendê que nasce fora do parque. O parque é uma área onde os iniciados do candomblé vêm trazer suas oferendas aos Orixás. 500 anos atrás a área era ocupada pelos índios Tupi situados na costa do Brasil, segundo o antropólogo José Augusto L. Sampaio, tinha uma população grande "cerca de um milhão de pessoas, com a mesma língua, a mesma cultura" (História, natureza e cultura: Parque metropolitano de Pirajá, 1998, p. 29). Além da ação religiosa com a catequese, a perseguição e matança dos índios foram ocorrendo ao longo dos séculos e, com a colonização foram implantados engenhos em suas terras e algumas áreas transformaram-se em quilombos. O crescimento urbano de Salvador já no século XX e sobretudo com a forte imigração dos anos 1970, as áreas mais distantes do centro de Salvador foram sendo ocupadas sem que houvesse uma intervenção urbana preocupada na qualidade de vida das pessoas e na preservação de áreas ambientalmente importantes de Mata Atlântica. Inúmeros esforços das associações comunitárias do entorno, grupos ambientalistas e as escolas lutam a anos para a recuperação da área com 1800 hectares. O ISVA continuará lutando pela preservação do parque e de outras áreas verdes importantes da cidade do Salvador.