sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Morreu um anarquista, ou...

“Nem o governo, nem pistoleiros, nem esses bandidos todos não vão conseguir acabar com a gente. Nosso povo nasceu índio, nasceu cheio de coragem, nasceu guerreiro!”
Tumbalalá
De coração partido informamos que o companheiro e amigo Chrystian Paiva, que tive a oportunidade de conhecer em Santos (SP), em meados da década de 90, de conviver, trocar idéias, compartilhar sonhos e lutas, morreu neste domingo (18), aos 34 anos, sob circunstâncias mui suspeitas, num balneário na cidade de Boa Vista, em Roraima, estado onde a taxa de mortalidade por homicídio é uma das mais altas do Brasil. Deixou dois filhos, Lennon e Gaia. E vários companheiros e companheiras, amigos e amigas. Foi enterrado ontem (20) em São Paulo, na capital.
Segundo a versão da polícia divulgada nos jornais locais ele se suicidou. Mas sua companheira, Adriana Gomes, diz que não acredita na versão oficial de que Chrystian tenha cometido suicídio.
Hoje (21) pela manhã, por telefone, ela disse indignada e aos prantos: “Nós simplesmente saímos para nos divertir com uma amiga dele que havia vindo de São Paulo nos visitar. Saímos todos juntos (Chrystian, sua amiga e eu). Nenhuma de nós duas estávamos próximas dele [na hora da morte uma estava dormindo e a outra estava tomando banho no rio]. Entramos em estado de choque, fomos maltratadas [moralmente] pela polícia, ela mais do que eu, pois ela chegou antes de mim e ficou detida. Não dá para acreditar na versão da polícia e da imprensa. Tenho plena convicção de que eles próprios atiraram nele, ele estava machucado no rosto, a mão esquerda estava machucada também. As testemunhas falam coisa com coisa e ninguém diz o que aconteceu, outros falam que os policiais atiraram nele. Não sei direito o que fazer, eu morri junto com ele, tudo um grande desastre, mas queria que me ajudassem. Estou meio transtornada".
Em 15 de fevereiro de 2009, Chrystian comentou no blog do Movimento de Organização dos Trabalhadores em Educação (MOTE): “Componho e apoio o MOTE. Apesar de afastado por motivo de saúde, e não poder participar ativamente da luta. Tenho sofrido perseguição, desconto de salário indevido, humilhações, enfim, tudo aquilo que sofre um professor nesse estado. E tudo depois de ter lutado com unhas e dentes em uma greve que resultou nesse aumentozinho miserável e não mudou a estrutura do sistema em nada… Sinto vergonha quando encontro colegas do interior que me informam que a situação está pior, muito pior… Alguns me cobram, confundindo minha figura com a do sindicato… cansei de ouvir “vocês esqueceram-se da gente… e aquele monte de coisa, ar condicionado, melhoria das escolas, etc, etc…”. Um companheiro de Mucajaí recentemente afirmou que as escolas que fotografamos continuam na mesma, acrescido, agora, da infestação por ratos… Pois bem, as escolas de ficção continuam, a merenda ruim ou inexistente continua, o assédio moral continua, a ditadura dos diretores e sua incompetência continuam, as doenças do trabalho continuam, as salas com 45 graus continuam, as progressões mal pagas continuam. Até quando agüentaremos calados todo esse inferno? Será que lutar por mais 10 ou 15% é o que basta?”.
Além da luta na educação, dos professores, eles também estavam envolvidos no movimento contra a implantação da indústria da cana-de-açúcar em Roraima, pela Biocapital, empresa paulista recém-instalada naquele estado e que deseja montar a maior usina de etanol da região amazônica. Esta empresa possui uma grande usina de biodiesel em Charqueada (SP), no interior paulista, que funciona exclusivamente com sebo bovino e tem sua cadeia produtiva manchada por crimes trabalhistas e ambientais.
Na floresta amazônica, terra cobiçada por grandes interesses obscuros e inescrupulosos - um conluio de fazendeiros, empresas e políticos -, há anos o poder promove a violência, reprime e assassina, indígenas, populares, trabalhadores sem terra, ecologistas, todos e todas que lutam incansavelmente pela Vida Plena. Há anos o capital explora e destrói a Natureza, a diversidade da Vida naquela região.
São anos de ganância, arrogância, humilhações, imposições, impunidades, injustiças... São tantos anos de “terrorismo” democráticodemercadomidiático!
ANA: Agência de Notícias Anarquistas
Moesio Rebouças