segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

INTERAÇÕES EDUCATIVAS

Imaginemos uma escola em que todos os que estão presentes são professores. Uma escola em que é priorizada a troca de conhecimentos entre os participantes sem a moralização da posição do professor nem o embotamento e o chateamento dos estudantes que se vêem obrigados a aprender matérias que reconhecem como totalmente desnecessários para suas vidas. Ao invés de aulas, interações educativas. Ao invés de imposições e obrigações, espontaneidade e responsabilidade. Essa é a metodologia do Instituto Sociambiental de Valéria.

Todas as vezes que vou ao ISVA me sinto num espaço onde são priorizadas as interações educativas. Semana passada tive a oportunidade de entender como é que se sabe quando uma jaca está madura ou não. Quem me ensinou foi uma das crianças que, às vistas de uma instituição comum, estaria ali somente para aprender e ouvir gritos. Outro dia outra criança me ensinou a amolar um facão na pedra. Às mentes guiadas pelo senso comum poderíamos ouvir uma crítica injuriosa agora, que me chamasse de utópico após afirmar que são conhecimentos simples diante da minha posição de universitário pós-graduando. Mas com toda a humildade que ainda busco conquistar posso afirmar agora que eu, menino criado com vó, de prédio, tenho 29 anos de idade e não sabia reconhecer simplesmente quando a jaca está madura e como amolar um facão na pedra.

Diante de toda complexidade do conhecimento ou do sistema econômico, o que ajuda as pessoas a sobreviverem em determinados contextos são justamente esse conhecimentos considerados simplórios por alguns. Mas mesmo que considerássemos simplórios esses aprendizados, enquanto educadores e pesquisadores de uma verdadeira educação deveríamos ter o mínimo de consciência para considerar que foram coisas aprendidas por essas crianças e, mais do que isso, bem aprendidas, a ponto delas saberem inclusive ensinar. Ora, são crianças de seus 13 a 14 anos de idade, semi-analfabetas, e me pergunto constantemente: porque elas aprenderam tão bem essas coisas enquanto sua escolaridade formal e o seu aprendizado deixam muito a desejar? Devo salientar neste momento que não aprendi imediatamente tais habilidades. São conhecimentos práticos que exigem experiência e treinamento disciplinado para um resultado perfeito. Então a princípio concluímos duas coisas: 1° - esses conhecimentos são simples, porém nada simplórios. 2° - diante da necessidade de vida laboral essas crianças aprenderam coisas que são cotidianas para elas que estão relacionadas a interações educativas (com seus pais, vizinhos, parentes), observação, fascínio e experimentação.
É claro que devemos considerar que até se chegar ao ponto da experimentação algo dentro das crianças deve impulsionar sua vontade para o conhecimento. E quando falamos de “vontade” aqui será que devemos tocar no ponto “espontaneidade”? Deixarei essa questão em aberto para reflexões, propositalmente.
Voltemos a falar do ISVA. Lembremos sempre das interações educativas, e que estas não são nenhum mistério criado por nós, ou uma novidade, ou um modismo. As interações educativas são resultado de uma prática comum de aprendizado espontâneo baseado na convivência e na troca. As interações educativas são práticas históricas de produção da existência humana, presente na convivência desde o momento em que existe vida em comunidade. Segundo Dermeval Saviani:
Lidando com a natureza, relacionando-se uns com os outros, os homens educavam-se e educavam as novas gerações. A produção da existência implica o desenvolvimento de formas e conteúdos cuja validade é estabelecida pela experiência, o que configura um verdadeiro processo de aprendizagem[1].

Dessa maneira é que no Isva hoje priorizamos as práticas educativas, sem separar a educação do trabalho, a educação da sobrevivência prática. É claro que o trabalho e a sobrevivência prática estão totalmente relacionados com o contexto do mundo, da política, da economia, da globalização. Tudo isso é debatido, mas numa corrente contrária ao que a escola tradicional faz hoje em dia. Essa escola, que segundo as palavras de Seu Antonio Mendes, é uma escola falida.
[1] SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação. Fundamentos ontológicos e históricos In: Revista Brasileira de Educação, vol.12, n°34. Rio de Janeiro.Jan/abr de 2007.
Igor Sant'Anna

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