quinta-feira, 18 de março de 2010

Violência e Juventude: a barbárie da vida pós-moderna


Igor Sant'Anna


A questão da violência assume proporções alarmantes. As periferias da cidade de Salvador como em muitas outras do país estão “infestadas” de jovens vítimas da violência institucional (sem educação, sem saúde, sem perspectiva de vida etc). A criminalização dos jovens acontece como uma resposta às conseqüências reais da herança histórica de um Estado autoritário e a respectiva renovação do liberalismo na sua nova roupagem (o neoliberalismo). Pode-se facilmente imaginar, mesmo sem um conhecimento efetivo da realidade, que a violência e a profissionalização do crime são reflexos de um somatório das imposições mercadológicas, da desagregação familiar, da precarização do trabalho e da constituição das relações de poder na atualidade.


Os índices de sucateamento da escola pública, e do espaço público em geral, geram um estado de impotência social nas comunidades. A mercadorização e espetacularização da cultura são responsáveis pela desagregação da memória social, e pela desvalorização das tradições culturais. A cultura que incita o pensar, ou seja, a auto-reflexão no cotidiano é posta de lado por uma caricaturização das formas culturais. A essas questões não podemos deixar de agregar a questão do lazer e a precariedade de áreas voltadas para o lazer. Tudo isso está relacionado de certa maneira à crise do espaço público já que podemos considerar que o espaço público é o lugar (no espaço e/ou no tempo) em que ocorrem os encontros, as trocas desalienadas e o fortalecimento da coesão social e das questões da coletividade.


A educação ambiental é utilizada, em geral, como uma resposta trivial, porém quando for levada em conta a questão da cidadania revolucionária ela se transformará em uma ecologia social revolucionária. Dizemos aqui cidadania revolucionária porque a toda campanha existente de cidadania existe uma ideologia neoliberal correspondente que resume o cidadão ao consumidor que vota. A cidadania de direitos é uma mentira que inventaram há tempos. Hoje é cidadão aquele que tem um cartão de crédito pronto para dar lucro aos patrões da vida.

Os parques urbanos são locais típicos com uma boa potencialidade de educação ambiental no meio urbano. Além de área de lazer e de espaço público de reprodução da cultura. Todas essas características se aplicam ao Parque São Bartolomeu, porém, e infelizmente, a característica do abandono e da violência também. A poluição dos mananciais de água por falta de uma política saneamento, ou a ocupação indevida da área por falta de uma política habitacional adequada só mostra (e sempre mostraram) pra que veio a existir o Estado enquanto instituição.

Hoje o ISVA recebe jovens de várias partes do bairro de Valéria e algumas vezes de outros bairros próximos. Sem referências de suas tradições culturais os jovens são alvos fáceis para a sedução pela empresa do tráfico de drogas. As rixas territoriais e os bairrismos são claramente identificados na convivência entre os jovens. É o povo desunido enquanto os empresários monopolistas se unem contra o povo. Dizem que querem o fim do Estado, mas a extinção do seu principal instrumento de repressão não chega nunca. A luta contra o capitalismo passa por propostas de organização ecológica da comunidade local, contra qualquer tipo de capital legal ou ilegal. A relação solidária entre os homens e sua natureza pode trazer a paz, mas não a paz silenciosa.

2 comentários:

Anônimo disse...

BAKUNIN, 1987:

“Amar é querer a liberdade, a completa independência do outro, o primeiro ato do verdadeiro amor é a completa emancipação do objeto que se ama; não se pode verdadeiramente amar senão a um ser perfeitamente livre, independente não somente de todos os outros, mas mesmo e sobretudo daquele pelo qual é amado e que ele próprio ama.

Eis a minha profissão de fé política, social e religiosa, eis o sentido íntimo, não somente de minhas ações e de minhas tendências políticas, mas também, tanto quanto eu possa, o de minha existência particular e individual, pois o tempo em que estes dois tipos de ação podiam ser separados já está bem longe de nós; agora o homem quer a liberdade em todas as acepções e aplicações desta palavra, ou então ele não quer absolutamente.

Querer, amando, a dependência daquele a quem se ama, é amar uma coisa e não um ser humano, pois este só se distingue da coisa pela liberdade; e também se o amor implicasse a dependência, ele seria a coisa mais perigosa e a mais infame do mundo porque criaria uma fonte inesgotável de escravidão e de degradação para a humanidade”

Anônimo disse...

É nisso que investe o ISVA. Uma experiência verdadeira, olhar no olho do outro e tentar viver momentos reais, sem o receio de ser feliz. O instituto está aberto para quem quer experimenta-lo na perspectiva de um espaço realmente público, além do mundo burguês, includente, dos "desgarrados", excluídos e marginalizado por uma sociedade e instituições de poucos.