quarta-feira, 29 de abril de 2009

Valéria Verde: multinacionais e ecologia


Impacto nos vales de Valéria pelas empresas


Mercedes-Benz em Valéria

Empresa Toshiba, em frente ao ISVA


Residências em auto-construção ao lado da Toshiba e em frente ao ISVA
Tecnologias adequadas para Sociedades sustentáveis
"Para a liberdade não há modelos ou modulações, somente experimentações"
(Edson Passeti)

O conceito de desenvolvimento sustentável tornou-se um coringa, um talismã (ALLENDE LANDA, 1995), encontrável em qualquer esquina, país, empresa, ong, etc. todos afirmam que estão praticando esse tal de desenvolvimento sustentável, empresas, chefes de estado, ong´s, pessoas... (JACOBS, 1996) parece que descobriram a pílula do rejuvenescimento, um dorian gray ilusionista. Todos professam a mesma cartilha. Sera?!?@

O bom é ser pequeno (Schumacher, 1983), já se dizia nos anos 60, apresentando modelos de tecnologias adequadas que não prejudicam o ambiente. Depois disso, as empresas mais poluidoras, os países com políticas tecnológicas mais agressívas faziam e ainda seguem fazendo em seus discursos uma lengalenga preservacionista, de responsabilidade sócio-ambiental enquanto contaminam toda a natureza, inclusive, nós os humanos. Protocolos internacionais acertam acordos que não são cumpridos, nem pelos que assinaram.

Quando os hippies iniciaram o movimento de comunidades alternativas (viva Raul!!), os produtos orgânicos, o uso de tecnologias mais simples, menos agressivas prosperou no mercado alternativo. O negócio é ser pequeno!!! fontes alternativas de gás, energia solar, eólica. Como os governos de direita e esquerda iriam modificar suas matrizes energéticas para moverem suas grandes indústrias, seus grandes parques tecnológicos?

Algumas empesas se capitalizaram e aperfeiçoaram seus equipamentos seguindo a onda alternativa, mas nenhuma política ou programa governamental poderia dizer livremente que iria mudar sua matriz sem que da noite para o dia as grandes empresas transferissem seus negócios para outros lugares.

Atualmente, ainda existem comunidades sustentáveis ou condomínios alternativos, embora rodeados e permeabilizados pelo mercado e modo de vida capitalista, mas enfim... As ecovilas são comunidades baseadas num modelo ecológico. Estão espalhadas no mundo, formando grupos entre 50 a 3000 pessoas. Ao lado dessas comunidades intencionais, existem ainda um número muito amplo de comunidades tradicionais indígenas, camponesas que também convivem de forma mais harmônica entre si e com o ambiente. Existe, inclusive, uma Rede Global de Ecovilas reunindo vários condomínios espalhados pelo mundo. Essa rede, segundo Braun (2005), foi criada em 1995 por ocasião da Conferência sobre as Ecovilas e Comunidades Sustentáveis - Modelos para o século XXI, realizada na Fundação Findhorn. Segundo esse autor, "este movimento já existe em mais de 15 mil localidades em diversos países, congregando mais de um milhão de pessoas, principalmente na Europa, América do Norte, Austrália, África do Sul e mais recentemente na América do Sul, que fazem parte de uma Rede Global de Ecovilas (GEN)" (p. 16). No Brasil, de acordo com Braun, já existem mais de 30 comunidades na rede de Ecovilas vinculada à global.

A ecovila de Findhorn, localizada no norte da Escócia e da baía de Findhorn, possui mais de 300 membros e "um grupo permanente de pessoas de 25 países, inclusive do Brasil" (p.48). Recebe por ano mais de 14 mil visitantes de mais de 50 países. Segundo Braun, a comunidade já ergueu 27 prédios ecológicos, desenvolveram vários tipos de tecnologias com materiais naturais. Como exemplo, a parede que "respira" para as residências, a partir de uma estrutura que permite "a saída do vapor de água e o ar saturado, impedindo a entrada do frio e da chuva" (p.53). Madeiras reutilizadas para construção de casas, cultivo de gramíneas no telhado, placas solares para energia elétrica, e a "máquina viva" sistema biotecnológico de purificação de águas residuárias das casas, são algumas das tecnologias sustentáveis que eles utilizam.

Na Bahia, existem algumas comunidades alternativas localizadas na Chapada Diamantina, principalmente, no Vale do Capão, município de Palmeiras, originários dos movimentos alternativos dos anos 70. Nessa época, muitas pessoas formaram grupos e foram viver nessas comunidades rurais nas regiões serranas do Estado.

Saindo da Escócia, indo para o Brasil, passando pela Chapada Diamantina e chegando ao Km 11 da BR-324, encontramos o ISVA, instituto socioambiental, atuante no bairro de Valéria no município de Salvador, na defesa da preservação ambiental e da melhoria da qualidade vida das pessoas, trabalhando com agricultura orgânica, agroecologia e permacultura. O ISVA atua como um centro de estudos em agroecologia urbana, possui uma Bilblioteca Comunitária, realiza oficinas eco-produtivas e cineclube. Em seus arredores grandes empresas nacionais a Gerdau por exemplo, e multinacionais como a Toshiba convivem com as residências simples, auto-construídas por seus próprios moradores que resolveram na ação direta seus problemas de moradia.
Em várias partes do bairro ruas sem asfalto onde se pode aproveitar para fazer pequenas hortas comunitárias com produtos para alimentação ou medicinais são as características principais de algumas áreas do bairro. O desemprego tem modificado a vida tranquila do bairro que tem uma grande presença de pessoas vindas das áreas rurais do Estado. Campanhas de plantio de árvores no bairro para proteger mananciais, nascentes e lagoas que contribuem para vida do rio do Cobre e da própria preservação do parque São Bartolomeu são algumas das ações do ISVA. As áreas verdes do bairro estão sendo vítimas de agressões pela implantação de empresas, de ruas que surgem sem a preocupação socioambiental e que vão desfigurando a paisagem e impedindo uma vida mais saudável nesse local. Valéria Verde é o chamado que fazemos para os moradores do bairro.

Uma outra sociedade com face humana e ecológica é possível se mudarmos nossa matriz energética, se soubermos viver igualitariamente, sem as tais desigualdades sociais.

Eduardo Nunes

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